Mais uma eleição se passou e uma regra
crescente se manteve. A cada pleito, aumenta o número da “renovação” na
política, em especial nos legislativos federal, estaduais e municipais. Nas
eleições de 2012, aqueles que tinham sido eleitos em 2008 foram renovados em
60%. Em 2016, considerando os vereadores de Boa Vista eleitos em 2012 foram reprovados
em 76%. Então qual a lógica dessa pseudo renovação. Nenhuma. Não há lógica, não
há renovação e isso só prova que a classe política precisa se reinventar. Cada
vez mais políticos não políticos são eleitos e os políticos/políticos são
rejeitados. Em 2012 Hadad era o técnico não político que venceu a eleição para
a Prefeitura de São Paulo, em 2016 Hadad já tinha se transformado em
político/político e perdeu a prefeitura da maior cidade do país para Dória, o
político/empresário/não político que venceu a eleição no primeiro turno,
deixando o campeão de 2012 num vergonhoso terceiro lugar. Parece complexo e é.
Apesar das diferenças obvias que existem
entre a maior cidade do país (São Paulo) e a menor prefeitura de Roraima, o
fato é que a situação política do Brasil é parecida sim. O eleitor acolhe os
políticos rejeitando os políticos e fala numa renovação que nunca será uma
renovação. Os próprios partidos e candidatos aumentam essa falsa cisão pregando
o novo, incentivando a entrada nas campanhas políticas de quem não tenha o
carimbo de “político” na testa. O fato é que depois de 2 de outubro um grande
número de vereadores, vices prefeitos e prefeitos estão eleitos e a pergunta
que todos devem fazer é simplesmente: - E agora, o que fazer?
Após todas as campanhas o saldo é sempre
o mesmo, eleitos, não eleitos, quase eleitos, alguns bem votados, outros com
votações “decepcionantes” e aquém do esperado, aqueles candidatos folclóricos
que morrem tentando, as “lideranças” pentelhas e “ratos” de partidos que nunca
passam de 100 votos, os profissionais liberais e lideranças sindicais que
tentam migrar da vida “normal” para a política e uma certeza: - O processo
político é dinâmico e cíclico, ou seja, não para e quando um é finalizado
automaticamente outro se inicia.
A verdade é que em qualquer situação
algumas perguntas vão passar naturalmente pela cabeça dos eleitos:
01 – Passadas as eleições o que fazer
com os nossos mandatos?
02 – Qual contribuição que um partido ou
um grupo político pode dar para orientar os eleitos?
03 – Como ficarão os companheiros que
eram vereadores e por pouco não conseguiram a reeleição?
04 – E os candidatos novatos que tiveram
estupendas votações, mas ficaram de fora por causa do quociente eleitoral, para
onde eles irão? Mudarão de partido ou tentarão novamente na mesma sigla?
05 – E aqueles candidatos que foram
apenas “pela experiência”, mas pretendem, voltar nas próximas eleições com mais
estrutura, organização, etc.?
06 – Como se comportará determinado
partido nas próximas eleições de 2018, 2020 e 2022?
07 – Fui eleito para vereador no
município X, mas meu prefeito não ganhou, como faço, melhor ser oposição ou
situação?
08 – Me elegi, mas em hipótese nenhuma
aceito apoiar o prefeito eleito em meu município, de que maneira posso me
comportar para cumprir com meu papel de vereador oposicionista?
09 - Quero apoiar o prefeito, mas não
quero ser chapa branca, quero criticar quando for necessário e apoiar quando
merecer?
10 – Sou aliado do prefeito, como devo
me comportar?
11 – O que pode fazer de fato um
vereador? Quais as áreas que pode atuar em um município grande como Boa Vista
ou em um pequeno como Uiramutã?
12 – Quais os limites de atuação de um
vereador como legislador?
13 – Quais são as preocupações iniciais
de um vereador de primeiro mandato?
14 – Sou prefeito de primeiro mandato, o
que devo fazer?
15 – Sou prefeito reeleito e agora?
Aparentemente essas perguntas são
simples demais e até ingênuas, mas lhes garanto que a quase totalidade dos
vereadores não as fizeram em especial os 76% dos vereadores que levaram cartões
vermelhos dos eleitores de Boa Vista, bem como os não eleitos nos demais municípios.
Dentre os 76% reprovados pelas urnas em
Boa Vista, alguns casos são curiosos: Um vereador X, por exemplo, concorreu em
várias eleições antes de ser eleito em 2012 e uma vez alçado ao mandato de
vereador não ocupou na tribuna, não se tem conhecimento de projetos de Leis de
sua autoria, ou mesmo indicações pedindo melhorias nas ruas da cidade, não
apareceu em nenhum meio de comunicação fazendo jus ao cargo, mudou de partido e
de grupo no qual foi eleito e levando em conta que não ganhou na mega sena, baseado
em que saiu candidato a reeleição? Obvio que seu retorno não seria fácil, como
não foi. Esse exemplo parece ser o mesmo dos demais não eleitos, Raras exceções
são aqueles que obtiveram uma votação expressiva, que ficaram entre os 21 mais
votados, mas foram traídos pelo quociente eleitoral. Parece meio frustrante
quando se luta a vida inteira para obter um mandato eletivo e quando isso
ocorre a única certeza parece ser de que nunca mais será eleito. Isso não é
menos pior do que a angustia de ser bem votado e ficar de fora, mas isso só vai
acabar quando essa anomalia chamada quociente eleitoral for extirpada e
ocuparem as vagas aqueles que forem efetivamente os mais votados. Algo neste
sentido sempre é lembrado nas propostas de reforma política, mas nunca
transformado em leis.
Não há uma técnica para se ganhar ou
perder eleição, pessoas com muito dinheiro e prestígio podem perder eleição,
pessoas simples e com poucos recursos podem se sagrar vencedores. Políticos
eleitos em uma campanha podem ter votações medíocres na campanha seguinte.
Eleitos para o legislativo podem decepcionar numa eleição para o executivo e
vice versa. Surpresas sempre existirão, fenômenos eleitorais se consagrarão em
uma campanha e desaparecerão na outra. Senadores, considerados as joias do
legislativo, poderão encerrar suas carreiras depois de sucessivas derrotas.
Comunicadores sociais (radialistas,
apresentadores de TV, jornalistas, etc.) poderão ter ou não ter sucesso no
mundo político. Em Roraima nem todos que se candidatam dessa área tem sucesso e
mesmo aqueles que foram eleitos, com raras exceções, obtiveram êxito nas
eleições seguintes.
O que existe é um conjunto de ações,
medidas, decisões, comportamentos, inovações, etc., que podem – de alguma forma
- colaborar para que determinada carreira política tenha êxito ou – pelo menos
- não seja encerrada precocemente. Nesse sentido a comunicação social, o
marketing político e eleitoral, a neolinguística, outras ciências, o apoio
político sólido, a escolha de um partido consolidado e antenado com o momento
atual do país, do estado e do seu município, o planejamento de uma carreira a
longo prazo, dentre outras circunstancias, pode aumentar as chances de uma
carreira de sucesso. Na dúvida, aos eleitos fica a conclusão de que não basta ganhar
o mandato, é necessário saber o que fazer com ele. O mesmo mandato que marca o
começo de uma carreira brilhante é o que encerra uma “promissora carreira”.
* J. R. Rodrigues – Jornalista, Advogado
e Especialista em Poder Legislativo pela PUC-MG. jotaroraima@gmail.com
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