“Isso
não é um problema só de Roraima, é um problema do Brasil”. Foi assim que o
governador do Estado, Antonio Denarium, classificou a situação gerada pelos
conflitos na Venezuela, e que estão impactando gravemente o sistema de saúde de
Roraima. Por isso, na manhã deste domingo, 24, Antonio Denarium anunciou o
decreto de calamidade na Saúde
“Já estive em contato com o ministro da
Saúde que se mostrou sensível à situação e com isso, esperamos contar com o
apoio do Governo Federal nos próximos dias. Decretamos a situação de calamidade
na saúde de Roraima. Precisamos de ações urgentes para abastecer o HGR e fazer
com que a Unidade possa prestar um atendimento digno a todos”, disse o
governador do Estado, Antonio Denarium.
O maior Hospital do Estado está à beira
de um colapso. Em pouco mais de 24 horas, o HGR (Hospital Geral de Roraima)
recebeu 18 pacientes venezuelanos em estado grave, vítimas dos conflitos que
ocorrem na Venezuela. A cidade de Santa Elena de Uairén não possui qualquer
estrutura que comporte esse tipo de atendimento, e por isso todos os feridos
atravessam a fronteira em ambulâncias venezuelanas e são atendidos, num
primeiro momento, em Pacaraima para estabilização.
Como são pacientes graves, praticamente
todos com ferimentos provocados por arma de fogo, eles precisam de cuidados
mais específicos, e por isso são transferidos para Boa Vista.
Uma das nossas preocupações das
autoridades de Saúde do Estado é que no momento a fronteira está fechada, e os
feridos não estão sendo transportados para o Brasil. No momento em que ela for
reaberta, toda essa demanda reprimida virá de uma só vez, impactando ainda mais
na oferta dos serviços de saúde.
COLAPSO NA SAÚDE – De acordo com o
secretário estadual de Saúde, Ailton Wanderley, a lotação do HGR está acima da
capacidade. “Por isso precisamos alocar pacientes nos corredores das
enfermarias para que o Grande Trauma tenha condições de atender pacientes
venezuelanos e brasileiros em estado crítico de saúde. Nossa prioridade é para
os casos mais graves, independente da nacionalidade. A prioridade é a vida”,
detalhou Ailton Wanderley, secretário estadual de Saúde.
Além disso alguns pacientes devem ser
transferidos para o Hospital das Clínicas. Roraima vivencia uma crise no
abastecimento das Unidades de Saúde provocada pela falta de contratos de
aquisição de materiais na gestão passada. “Estamos concluindo as compras
emergenciais e anuais, mas agora com essa situação, muita gente em estado grave
está vindo para o HGR, impactando mais ainda o atendimento de saúde no nosso
Estado”, complementou Wanderley.
No começo da noite deste sábado, 23 de
fevereiro, das seis salas de cirurgia do HGR, quatro estavam ocupadas por
venezuelanos feridos nos conflitos do lado de lá da fronteira, com a previsão
da chegada de outros pacientes também em estado grave. Além disso todos os
leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão ocupados.
“Quando esses pacientes saírem do centro
cirúrgico podem precisar de um leito de UTI, e já não temos mais. Se a situação
na Venezuela piorar e não recebermos nenhum tipo de apoio, a saúde em Roraima
vai colapsar”, disse Roger Caleffi, diretor geral do HGR.
Por conta dessa superlotação, pacientes
em coma e que precisam respirar com a ajuda de aparelhos estão em leitos no
Trauma, aguardando uma vaga na UTI.
APOIO EM PACARAIMA – A demanda por
insumos também é uma preocupação para o município de Pacaraima. O Hospital
Délio Oliveira Tupinambá é a primeira Unidade de Saúde do lado brasileiro da
fronteira, onde esses pacientes recebem os primeiros atendimentos e são
estabilizados para a remoção até Boa Vista.
Além de já sentir os impactos da
migração de venezuelanos para o Brasil, as equipes do Hospital estão contando
com apoio de profissionais e insumos da secretaria de Saúde de Pacaraima, além
de outros municípios, como Boa Vista, para o transporte de pacientes.
A estrutura do Samu (Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência) também está sendo utilizada para reforçar as
ações em Pacaraima. “Recebemos apoio de Alto Alegre, Pacaraima, Boa Vista e da
Central do Samu. São viaturas e profissionais que se voluntariaram para ajudar,
devido ao agravamento da situação na fronteira”, explicou Roger Caleffi.
NOVOS CASOS – Já passavam das 22h deste
sábado quando outros quatro pacientes venezuelanos, vítimas dos conflitos na
Venezuela, deram entrada no HGR. São eles: Carlos Adrian Herrera Bedoya, 16
anos; Carlos Eduardo Farias, 45 anos; Yitzy Josefina Arrieta Aular, 35 anos; e
Jorge Javier Gonzalez Parra, de 40 anos.
RETROSPECTIVA – Em pouco mais de 24
horas o HGR recebeu 18 pacientes venezuelanos em estado grave, a maioria com
ferimentos provocados por arma de fogo. Além desses que deram entrada na
Unidade na noite de sábado, 23, outros cinco pacientes foram atendidos no
Brasil. Os primeiros procedimentos foram realizados em Pacaraima, no Hospital
Délio Oliveira Tupinambá.
Omar Fernando Casique Ortega, 59 anos;
Chei Alexis Fernandez Suarez, 40 anos; Anderson Francisco Rojas Casado, 19
anos; Carlos José da Silva Salazar, 27 anos; e Luis Jose da Silva Salazar, de
27 anos deram entrada no HGR no início da noite desse sábado. Quatro deles
precisaram passar por cirurgia.
No total, até o momento, 20 pacientes
venezuelanos receberam atendimento médico em Hospitais Públicos de Roraima e
nenhuma morte foi registrada.
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